O papel da Terapia Ocupacional no Autismo

No Dia Mundial da Consciencialização do Autismo torna-se importante referir alguns aspetos acerca desta perturbação do neurodesenvolvimento e o papel da intervenção do Terapeuta Ocupacional.

Por norma é utilizado termo genérico autismo, quando em clínica se faz referência a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA). A designação espetro foi aplicada pela diversidade de sintomas, englobando três níveis de gravidade (ligeiro, moderado e grave) de acordo com o grau de suporte necessário e a independência/autonomia e flexibilidade cognitiva.

 Nos últimos 30 anos tem surgido um aumento global do número de casos diagnosticados com PEA. Em 2007 foi realizado um estudo em Portugal que revela a prevalência de 1 caso em cada 1000, em idade escolar. Globalmente mais frequente nos rapazes do que nas raparigas.

A PEA é uma condição permanente, ou seja, não tem cura, o diagnóstico deve ser precoce, por norma é realizado entre os 2 e os 3 anos de idade, o que permite uma avaliação e intervenção terapêuticas ajustadas e atempadas, para um melhor prognóstico. A evolução e prognóstico vão depender do perfil intelectual e do nível funcional da criança, bem como da existência de outras patologias médicas associadas e ainda do enquadramento familiar e sociocultural.

A PEA altera a forma como uma criança vê e experiência o mundo. São vários os sintomas apresentados, nomeadamente: dificuldade na aprendizagem, fala, expressar ideias e sentimentos, relacionamentos, estabelecer contacto visual, a existência de padrões repetitivos e movimentos estereotipados como ficar muito tempo sentado a balançar o corpo, comportamentos agressivos, ou o interesse por objetos ou temas específicos. As pessoas com diagnóstico de PEA podem também apresentar um aumento de sensibilidade sensorial num ou em vários sentidos (visão, tato, audição, paladar, olfato, propriocepção e vestibular).

A articulação entre a família, escola, terapeutas e comunidade é um fator facilitador na intervenção. A Terapia Ocupacional é uma área da saúde importante na avaliação e intervenção de crianças com PEA, cujos principais objetivos são contribuir para uma melhor qualidade de vida, promover, manter e desenvolver as competências físicas, sociais, emocionais, sensoriais e cognitivas, importantes para facilitar a participação e independência em atividades de vida diária, atividades relacionadas com a escola e relacionadas com o brincar, em diferentes contextos.

O principal recurso utilizado pelo Terapeuta Ocupacional na intervenção é o brincar, através do qual pode realizar o treino de atividades diárias como vestir, pentear, lavar os dentes, calçar os sapatos, comer sozinho, tomar banho; desenvolver capacidades motoras finas para a escrita ou utilizar a tesoura para cortar; capacidades motoras para andar de bicicleta, jogar à bola; facilitar na consciência corporal e no espaço; aprender a concentrar-se ou a autorregular-se. É igualmente importante avaliar e intervir nas disfunções de processamento sensorial (dificuldade em processar informações através dos sentidos), recorrendo para tal a uma abordagem baseada na Integração Sensorial, de modo a satisfazer as necessidades sensoriais e reduzindo o excesso ou a falta de estímulo. A Terapia Ocupacional ajuda a criança a responder de forma adequada à luz, ao som, ao toque, aos cheiros e a outras informações, de forma a que consiga desempenhar melhor as suas atividades de vida diária.  

Joana Vidal

Terapeuta Ocupacional